terça-feira, 1 de setembro de 2015

Iniciação ao tacacá: um conto

             Da janela do avião, a anunciação do que estava por vir gritava pelo tapete verde-escuro quase ininterrupto formado por arvores centenárias de copas infinitas. A rede orgânica era intervalada apenas por uma sucuri aquática majestosamente curvilínea: o Rio Pará, que foi trançado seu espaço por meio da floresta ao longo de milhares de anos. O aroma herbáceo e o calor úmido me invadiram tão logo pisei para fora do avião. Era fato: minha bússola de pesquisadora havia me tirado dos pampas para me aventurar na Amazônia, a minha última fronteira do sabor.            
            Nas ruas de Belém, as alamedas formadas por antigas mangueiras continuavam a colorir a cidade em tons esverdeados. A monotonia do verde era quebrada por casas amarelas, azuis, vermelhas e pelo colorido das fitinhas da lembrança do Círio amarradas 
nas imediações da Igreja de Nossa de Nazaré em busca do alcance de graças . 


Chegando no hotel, percebi que o calor não era só na temperatura, mas também no trato às pessoas: no simpático hotel-pousada familiar Marajoara, os donos me acolheram como filha.

            Era quase 17h quando fui dar meus primeiros passos pelas cidade e a movimentação das tacacazeiras para iniciar seus trabalhos era quase ritual. Os banquinhos dispostos na frente da Kombi já esperavam os clientes que já viravam a esquina. - “Há que se ter uma confiança danada naquela que faz o tucupi...”, disse-me um cliente que esperava na fila. -“...se não for bem feito, o suco da mandioca brava pode ser letal”.     
                A julgar pela fila e pela fama do Tacacá da Dona Maria, a confiança era de sobra. Quando tirei os óculos e pedi meu tacacá, a filha de Dona Maria, que assumiu o carrinho após a morte de sua mãe, me disse: “com esses olhos você não deve ser daqui. E se não é daqui deve saber o que é e nem como se come tacacá”. Mal sabia ela que, apesar de gaúcha, me criei em Brasília e muitos dos meus domingos foram regados a tacacá na Feira da Torre (até contrabando para de tucupi para o RS eu já fiz). Mas a deixei falar. Falar do seu ofício familiar. Falar da sua vida. Falar do sangue amarelo que corre nas veias dos paraenses desde seus tempos mais remotos.        

“Primeiro ele era feito pelos índios. Plantavam a roça da mandioca brava e depois colhiam. A brava é aquela amarela, sabe? Depois eles ralavam e colocavam no tipiti. Esticavam, extraiam seu suco e deixavam descansar até a goma descer e o líquido amarelo ficar brilhoso. Deixavam o líquido fermentar. Depois tinha que ferver, pra evaporar o veneno. É um ácido na verdade. Cianídrico. Mas não mata também, esse povo é exagerado! Aí foi passando. De geração em geração. Aprendi com a minha mãe. Agora a gente não faz mais com tipiti. Só rala e espreme no pano. Para fazer o tacacá é só temperar o tucipi: a gente coloca alho, chicória paraense, pimenta de cheiro e alfavaca. O jambu e o camarão seco a gente coloca na hora. O jambu é que faz tremer! E tem que tomar quente, fazer suar para mandar embora as coisas ruins do corpo”.

Enquanto ela me explicava, foi preparando meu Tacacá: cesta de palha, cuia, três conchas cheias, um punhado generoso de camarão seco e o jambu. 



 - “Quer goma?”        

- “Claro, a experiência tem que ser completa!” E lá se foi uma colherada do viscoso e transparente amido.




- “Tá. Agora senta aqui e deixa eu tirar uma foto! Tem que mostrar pros seus amigos lá debaixo que se toma direto da cuia.”

No primeiro gole eu me dei conta: aquele era meu verdadeiramente primeiro tacacá! Porque o que faz o tacacá não é só tucupi misturado com seus temperos, mas o saber, as gerações, o afeto, o trabalho, a memória e a cultura que transformam aquele alimento numa entidade essencial, como a matriarca de uma família, para identidade de seu povo.


Depois do último camarão, um abraço naquela querida e mais alguns passos de volta ao hotel sombreados pelas mangueiras...


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Comendo o mundo: os sabores da Colômbia

Olá, olá, minha gente!

A pessoa some por mais de um ano e agora quer voltar como se nada tivesse acontecido? SIM!
Juro que eu tenho uma boa motivação para isso: estou vivenciando minha tão esperada jornada da minha pesquisa do doutorado e estou tempo para refletir sobre os lugares fantásticos, sabores únicos e pessoas singulares que estou conhecendo.


Daí pensei: por que não compartilhar isso aqui?!

Para ninguém pegar o bonde andando, irei voltar aos poucos... Por isso, hoje vou reavivar minha coluna preferida do blog: Comendo o mundo!

Atualmente, meu saldo de viagens é este:




*se você quiser fazer seu mapa, entra aqui ó: http://wherehaveibeen.info/

Ainda é pobrinho, a lista de lugares a conhecer é enorme (Alô, África!), mas  aos poucos vou compartilhando os sabores, receitas e culturas alimentares que tive a oportunidade de conhecer.

Dito isso, vamos ao que interessa: cocina colombiana!

Já tinha um tempão que eu e o digníssimo estavamos namorando a Colômbia. Aproveitamos para fazer uma pré lua de mel no país de Garcia Marquez, em julho de 2015. Além das paisagens, uma coisa despertava muito nossa curiosidade sobre o país: su cocina muy rica! Mas o que dizer da gastronomia de um país rico d mcultura indígena, europeia, negra, latina, árabe, contemplada com a Amazônia, com mar do Caribe, com Mata Atlântica e uma das maiores e mais ricas biodiversidades do planeta? Não poderia se esperar nada menos que uma gastronomia diversa e surpreendente! Olha só a quantidade de bananas, batatas e frutas que a gente encontra num mercadinho de esquina:









A cozinha colombiana não é marcada por técnicas elaboradas e nem ingredientes sofisticados: a base de seus pratos típicos são ingredientes bem comuns à cultura brasileira, tendo a banana, o milho e o feijão como seus principais ingredientes.

Agora, se você acha que eles comem a banana com granola e canela, você está redondamente enganado. Um dos preparos mais comuns encontrados nas mesas colombianas são os Patacones: fatias de plátano (uma espécie de banana, tipo a nossa banana da terra) verde, amassadas (com um soquinho. Daí vem o nome. A fatia da banana amassada com uma pata de elefante), fritas e servidas com sal. É um preparo versátil, servido tanto como acompanhamento, como sozinho para um pestisco. Em San Andrés, brindados com o mar caribeño de sete cores, comemos essas belezinhas com um Cazuela de Caracoles (caçarola de caracóis, em tradução literal).





Este da foto comemos no Restaurante La Bruja, da Rede  de hotéis Decamoron, onde estávamos hospedados. Na ilhota de 27 km² não existem muitas opções de restaurante. Por isso, optamos por ficar no Royal Decameron Los Delfines, o mais novinho da rede, no sistema all inclusive (nada de muito maravilhoso, mas tá valendo), que era composto por mais de 10 restaurantes espalhados pela ilha =). A localização também era ótima, por ficar no centrinho e ainda por ter uma praia particular básica... Ai, que chato!
E além da banana, o que é que a Colômbia tem? No caso da ilha, muitas frutas, além das nossas conhecidas goiaba, melancia, abacaxi, manga, papaia e graviola, eles consomem Lulo (não tem nada parecido aqui, mas tem um sabor agridoce), maracujá doce e tomate doce!
Mais colombiano que os patacones, só as Arepas - uma espécie de tapioca mais grossa feita com farinha de milho (branca ou amarela) feitas na frigideira, na chapa ou na arepeira e que acompanha todos as refeições. Quando recheada, pode ser até uma refeição completa.



Arepeira no centro de Bogotá.

Já em Bogotá, uma cidade surpreendentemente incrível, a oferta gastronômica era bem cotada! Além de restaurantes consagrados (a Colômbia possui 5 restaurantes na lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina), a cidade é rica em comida de rua! O que me deixou mais impressionada foram as barraquinhas de frutas espalhadas pelas calles, nas quais são vendidos potinhos de frutas cortadas, principalmente manga verde em tirinhas com sal (que fica parecendo espaguete). As pessoas pegam e saem andando. Isso que é fast food! O governo faz várias campanhas incentivando o consumo de frutas fresca e locais para uma vida mais saudável. Nessa pegada, pode-se encontrar um milho (milhaozão diga-se de passagem) assado na brasa por apenas 2 reais! ¿Chévere, no?


                                   


No centro, tem uma quantidade infinita de carrinhos e restaurantes com comidas tradicionais. Dá pra se jogar!



Saindo das ruas e entrando no circuito dos restaurantes, Bogotá oferece muitas opções em toda a cidade, porém concentra grande parte delas na Zona T: uma região repleta de bares, restaurantes, baladas, shoppings, lojas como Dior, Pronovias e Valentino e hotéis. Lá, turistas e locais se confundem nas ruelas iluminadas e musicais que mais parecem um parque de diversões para quem curte gastronomia e moda. 

Na Zona T, tivemos algumas experiencias bem agradáveis. A primeira delas: o tradicional Andrés carne de Rés. Inspirado na Divina Comédia, de Dante Alighiere, o restaurante tem vários andares que representam desde o inferno até o céu. O lugar é TODO cheio de detalhes, naquele estilo de bagunça arrumada que dá certo (detalhe: a unidade da Zona T é uma franquia, o original fica num bairro afastado e dizem que é SENSA, pois além da boa comida, depois tudo vira uma grande festa!). A pedida lá é uma boa carne. Pedimos um "plancha" com vários tipos de carne, chorizo, arepas, papas, carne porco e carne de frango. Pedimos um suco e uma cerveja. Não muito baratchol - a conta ficou em torno de 150 mil pesos colombianos. Valeu a pena! A comida tava gostosa - a fome deu uma ajudada - e o lugar é realmente incrível e hilário! Tem que ir!



Andando pela rua central da zona, entramos no que parecia uma medina. Um restaurante árabe com uma pegada marroquina e meio libanesa. Resultado? A melhor comida das arábias que já comemos, harmonizada com um chardonnay bem geladinho. Destaque para a linguiça de cordeiro artesanal. No Gyros y Kebab eles tem até um forno a lenha que você pode ficar apreciando os pães pita inflarem enquanto assam. 




Ainda na Zona T, conhecemos uma Cevicheria bem bacaninha chamada  Central Cevicheria. O lugar é bacanérrimo. Tem uma vendinha de produtos peruanos e verduras frescas e peixaria na frente, os drinks são bem gostosos e preço é bem justo. Porém, apesar do peixe ser fresco, eles colocam MUITO milho enlatado no meu ceviche. Nessa hora você para e pensa: Amigo, assim não dá pra te defender.

Na tarde de ir embora, enquanto esperávamos a hora de ir ao aeroporto, conhecemos também uma browneseria, bem gostosinha para tomar um café enquanto você vê a vida passar. Acredita que na Nocciola Brownieseria eles fazem até sushi de brownie? Eu vou morrer e não vou ver de tudo que esse raio gourmetizador é capaz!

Saindo da Zona T, conhecemos dois restaurantes que fizeram valer a viagem e que deram motivos para voltar: Leo Cocina y Cava e Harry Sasson.

Leo Cocina y Cava fica perto do centro da cidade. Fica numa casa antiguinha branca com uma imponente porta de madeira. Da porta para dentro, nada de antiguidade: o restô é todo moderninho, com intervenções artísticas em ferro e uma adega aberta em toda lateral do espaço. Simples e chique, assim como se espera de um restaurante que integra a lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina (ele ocupa a 49ª posição). A chef Leo é uma daquelas mulheres que veste a camisa: além do restaurante, conhecido por utilizar produtos da biodiversidade colombiana, ela tem uma fundação de pesquisa da cultura e produtos de seu país. Demais, né? Por isso, não tivemos muitas dúvidas na hora de escolher: pedimos os dois menus degustação, cada um de 10 passos, que a casa oferece - o clássico e o sazonal - harmonizados com vinhos e licores feitos por uma cooperativa de mulheres da amazônia colombiana (por sinal, acho que não harmonizaram legal, mas o que vale é a valorização da biodiversidade e de suas guardiãs, então tá valendo). O valor de cada menu era de 200 mil pesos colombianos. Vale a experiencia, pois é como fazer um tour de sabores por todos os territórios, biomas e matas da Colômbia. É emocionante! Ah, não esqueça de fazer reserva.

Uma amostrinha do que foram os menus:














Por fim, o nosso coroado: Harry Sasson. Pensa num lugar fino! Teto completamente de vidro para você admirar o céu enquanto você toma uma tacinha de espumante. Mas o que arrebatou meu coração não foi o tratamento querido dos garçons, nem da pegada artística do local, mas sim a Cola de Langosta braseada com mantequilla . Rapaz, sério, a textura e o sabor daquela lagosta ficaram no coração! O Harry também integra a lista dos 50 melhores restaurantes da América Latina, ocupando a 43ª posição.





E aí, vale ou não vale fazer uma boquinha na Colômbia? Eu, com certeza, fiquei com gostinho de quero mais!

Besotes,


T.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Think about eat: Os enlaces da identidade alimentar


Há algum tempo, tive a grata surpresa de receber como inspiração divina o artigo da minha querida e inteligentíssima amiga Janine Colaço. Intitulado "O ENCONTRO ENTRE O TRADICIONAL E O NOVO: autenticidade e restaurantes na cidade de São Paulo", Janine traça um panorama, a partir do olhar dos donos de restaurantes tradicionais de São Paulo com mais de 50 anos de existência, entre a tradicional comida italiana, de raiz, imigrante, passada de geração em geração e encapsulada por elementos passados mergulhada na modernidade e os novos e diversos restaurantes que "re"inventaram e "re"leram a cozinha italiana oferecendo novas experiencias, em ambientes modernos, devidamente climatizados,iluminados e planejados. 

Pode-se dizer, em outras palavras, que o panorama traçado está entre a tradição e a tradição inventada, muito bem posta por Hobsbawm, na qual busca-se imitar algo já legitimado e consolidado que rompeu as barreiras do tempo para enfrentar um novo contexto, como a globalização,para firmar sua identidade, se referenciando em algo passado numa continuidade artificial. A situação mostra-se, então, um pouco mais complexa, pois não se trata apenas do paradoxo de autenticidade entre um restaurante antigo em relação a um restaurante novo, mas sim, se refere a construção das identidades em um ambiente globalizado, onde as tradições são reinventadas em qualquer lugar e facilmente reproduzidas por indústrias chinesas e distribuídas no ebay ou no festival de sanduíches do mundo do Mc Donalds.


Em tempos de "consumo, logo existo", o comedor industrial, passivo e acrítico, proposto por Berry, que não sabe comer é um ato agrícola e não sabe mais as conexões entre alimentação e a terra, não se preocupa se é a nonna que está mexendo a polenta no tacho ou se a farinha de milho foi produzida, embalada e distribuída por uma grande multinacional agroalimentar. Ele se preocupa em consumir (de preferência bem rápido e bonito para postar no instagram). Giddens já alertara para este fato, quando em As Consequências da Modernidade, dizia que nos encontramos "apanhados num universo de eventos que não compreendemos plenamente, e que parecem em grande parte estar fora de nosso controle", onde as conseqüências da modernidade estão nos alcançado e se radicalizando, materializando as descontinuidades que nos desvencilharam das tradicionais formas de ordem social e nos trouxeram ao período moderno. As interconexões sociais em torno do globo, a desconstrução das características íntimas e pessoais do cotidiano para adaptação ao moderno e a desconstrução do evolucionismo social para conceber que a história moderna não será constituída de uma unidade, mas sim de um caos infinito de histórias, são algumas das considerações que Giddens faz em relação a esse mundo moderno. E como essa conversa chega a cozinha? Simples. Como bem diz Janine, a cozinha é um sistema e um processo "onde o funcionamento prático expõe relações sociais".

E dessas relações sociais emergem os símbolos e os processos sociais que definem status, questões de gênero, distinções entre indivíduos e classes. Disso, temos também, a diferenciação de funções, saberes e especialidades. Assim, associando o boom gastronômico atual com a questão das tradições inventadas na modernidade, os saberes tácitos das nonnas, dos pais nos almoços de domingo e dos sertanejos nos interiores do país estão sendo, paulatinamente, substituídos por chefs com suas dólmãs em cozinhas-show ou em programas de televisão, romantizando o cotidiano de tradições hereditárias e se valendo de hábitos muitas vezes marginalizados, substituindo "a confiança de relações de proximidade familiar e de vizinhança, para uma confiança baseada na desincorporação e conhecimento técnico”.

A minha preocupação em torno disso, enquanto gastrônoma, é se os chefs estão matando a tradição ou a estão reinventando com tantas firulas que fazem seus guardiões se retorcerem em seus túmulos?? Janine traz a fala de uma das nonnas que teve sua receita de pão de linguiça roubada por seu padeiro e vendida para uma pizzaria com várias filiais. Segundo ela, sua grande indignição se deve ao desrespeito s as subjetividades intrinsecas da receita, pois "a reprodução da receita é feita sem qualquer sentido familiar ou tradicional". Parece, então, que existem chefs ou grandes empresários do setor de restaurantes que tem tornando o valor da emoção e da tradição uma mera moeda de troca para promover seus restaurantes! Será que está se criando uma cultura de chefs zumbis que fazem comida sem alma e sentido? Será que até a mais ínfima cozinha de casa se converteu em uma commodity em potencial? Mercantilizaram-se os sabores e empobreceram a essência dos saberes ancestrais.





                                   
Na busca de inovar, reinventar e contemplar toda a diversidade imposta pela globalização, acaba-se por suprimir a identidade verdadeira do prato. Pois, em meio a essa miscelânea cultural, está se justificando a mistura de sushi com farofa porque, afinal “estamos em um mundo globalizado” que necessita inovar e se reinventar as tradições a qualquer custo e técnica para poder se manter ativo no mercado. Não digo que devemos estar estáticos, pois a tradição precisa beber na fonte da contemporaneidade para perpetuar na modernidade. Devemos, claro, trocar as folhas, mas a raiz...Ah! Está deve permanecer radicada nas entranhas "da panela velha que faz comida boa".

A nova gastronomia contemporânea não foi constituída no vácuo do presente. Ela é a consequência de uma construção histórica que começou lá atrás quando o proto homem percebeu que poderia transformar seus alimentos a partir do contato com o fogo. Portanto, a nova cozinha, assim como qualquer outra ciência, precisa lembrar de suas origens e saber reconhecer a autenticidade das tradições e não só valorizar o "reinventado". Disso tudo, fica a questão: O autentico, então, é algo simplesmente inventivo ou é algo construído, legitimado pela história e inabalável frente as inovações e diversidades identitárias de nossa época? Não pretendo responder a essas retóricas, porém, gostaria de trazer a reflexão de que a comida tem sua identidade e história e nós, apaixonados pela gastronomia, precisamos deter os meios de preservar suas particularidades. Do contrário, estaremos evaporando as identidades gastronômicas mais rápido do que as espumas de alguns “magos” da cozinha contemporânea...

*Think about eat é uma coluna semanal, que expõe temas da gastronomia que devem ser trazidos para discussão aprofundada e pensada.


sábado, 8 de março de 2014

De volta... e com a macarrão de rúcula com tomatinho e ricota!

Dizem por ai que o tempo cura tudo.
Que o tempo é o melhor remédio.
Que o tempo faz tudo se transmutar.
Que o tempo trata de por tudo em seu lugar.
Eu vejo isso de uma maneira diferente. Eu acredito que se deixarmos as coisas sem cuidado, através desse mesmo tempo que cura tudo, colhe-se um efeito corrosivo. Enferrujam-se os ferros. Apodrecem-se as madeiras. Desbotam-se as cores. Calam-se as ideias.
E eu me descuidei deste meu pequeno e lindo projeto por um tempo... Mas antes que ele se deteriora-se, eu resolvi retomá-lo e continuar alimentando o sistema gastrocentrico!

Para tanto, vou fazer a alegria geral da nação que curtiu muuuuito  a minha gloriosa massa da dieta que postei no meu insta (@tainazaneti).
Mas essa massa tem uma história. Tudo começa pelo fato de que, como todo carnaval tem seu fim, o meu chegou antes mesmo do carnaval. Tive consulta com minha nutricionista, na quinta, antes do carnaval. E ela me deu AQUELE puxão de orelha. Eu tinha duas opções: chorar pelo leite condensado derramado ou me superar e voltar a fazer comidas leves e gostosas. Dignamente, optei pela segunda opção. Aproveitei a ilustre companhia do meu excelentíssimo e fomos para a feirinha orgânica da redenção que sempre nos brinda aos sábados, em Porto Alegre. Pechinchei todos os tipos de frutas, legumes e verduras possiveis e fui pra casa feliz da vida transforma-los em comidinhas. Teve couve tailandesa, legumes assados na churrasqueira, tarte tatin de mini-cebolinha, salada grega, moqueca.... Enfim, um festa de sabores carnavalescos.

Eis que na quinta, o mundo real já chamava de volta, as hortaliças estavam acabando e eu cheguei da academia CHEIA de fome.
Olhei para a gaveta de verduras peguei tudo que tinha: tomatinho, rúcola, alho, cebolinha.
Olhei nas pratileiras de cima e vi a ricota todo especial que meu pai tinha feito pra mim na fazenda.
Abri a dispensa, vi meu macarrão de arroz e não pensei duas vezes: isso vai dar samba! Pra agregar um pouco mais de valor, colhi umas folhinhas de manjericão na minha horta. (horta em casa é statis! hahaha!)
Coloquei um panela grande com agua para ferver e, ao som da minha musa Janis, piquei todos os ingredientes.
Numa frigideira grande, coloquei uma colher de aceto balsâmico, deixei reduzir um pouco, coloquei o alho. Quando ele já estava caramelizando, coloquei o tomatinho. dei uma leve refogada e reservei. Enquanto isso, minha massa já estava cozinhando. Quando ela ficou al dente, a transferir para a frigideira, misturei com meu refogado, agreguei a ricota, o manjericão e a rúcola e tcharam: nasce uma estrela!
A primeira garfada foi uma surpresa: o agridoce do aceto, com a maciez do tomatinho e o picante da rúcola e do alho fizeram eu ter certeza de que eu tinha feito a escolha certa!

Foto: Delicia de dieta! Macarrão de arroz, rúcula, ricota, manjerona, alho e tomatinho!

Ingredientes

8 talos inteiros de rúcola picados
10 folhinhas de manjericão
2 colheres de sopa de ricota fresca
10 tomatinhos cortados em 4
100g de macarrão de arroz cozido
1 colher de sopa de aceto balsâmico
2 dentes de alho
3 cebolinhas picadinhas

Preparo

Em uma panela grande, coloque aga para ferver para cozinhar o macarrão. Em uma frigideira grande, coloque o aceto balsâmico. Espere reduzir um pouco e acrescente o alho. Quando estiver caramelizado, coloque os tomatinhos. Dê uma leve refogada e reserve. Quando a agua do macarrão ferver, coloque uma colher de sopa de sal na agua e agregue o macarrão. Cozinhe até que ela fique al dente. Transfira o macarrão para a frigeideira. Agregue os demais ingredientes e saltei-os até que tdos os ingredientes estão misturados. Pronto! Agora é só comer e ser feliz!                                

É isso, minha gente! Testem a receita e espero revê-los em breve!

Beijos mil e bom final de semana!

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Dieta de segunda: muffin "proteico" de banana

Hoje na aula de spinning, entre um "BORA QUEIMAR A GORDURA DO FINAL DE SEMANA" e um "TÃO CANSADAS? NA HORA QUE TAVA DEVORANDO AQUELE PASTEL NÃO TAVA OFEGANTE ASSIM", eu só pensava em chegar em casa e comer alguma coisa (hahaha! SEMPRE). Entre as pedaladas, a professora comentou que mais cedo tinha gastado R$ 700,00 em suplementos, BCGA, barrinhas proteicas e aquela parafernália toda... Nada contra, mas é que não consigo trocar um lanche todo elaborado por uma cápsula. Sério!

Tem tanta coisa boa e saudável para comer que é só a gente usar a criatividade e pesquisar  que descobrimos um mundo de novas opções para tornar a alimentação do dia-a-dia além de gostosa, inteligente!

Apesar de eu não seguir nenhuma dieta específica, de vez eu quando eu gosto de dar uma bizoada na dieta alheia para ter umas ideias para incrementar minha alimentação. Aproveitei que a minha mãe mais linda desse mundo tá fazendo a dieta da proteína e fica para cima e para baixo com o livro do Dr. Dukan e fui lanchar um paozinho proteico que o tal dotô ensina na bíblia da proteína. Para minha surpresa o pão era simplesmente M A R A V I L H O S O! E não puxando sardinha pra mainha, não, mas ela arrasou! Ela colocou um pouquinho de noz-moscada e canela, serviu com um chazinho de laranja. Isso parece dieta? Não, né?

Ficou tão bom, tão bom que uns dias depois eu cheguei em casa da academia e resolvi reproduzir. Mas como é de acontecer, eu não tinha todos os ingredientes em casa e tive que adaptar (sabe como é quando sobra mês no salário...) Eu resolvi arriscar assim mesmo e voilá: quem não arrisca não petisca e deu certo! O melhor de tudo é que ficou super prático para levar para trabalho de lanche e dá uma saciada ótima na fome de leão!
Postei o feito no instagram e choveu comentário das meninas pedindo a receita. Portanto, ai vai ela (a original e a do improviso):


                                                       

Pão proteico do Dr. Dukan*

INGREDIENTES:

4 co (sopa) farelo de aveia
5 ovos
2 co (sopa) cheias de cream cheese light
6 co (sopa) leite em pó desnatado
2 co (sopa) adoçante forno e fogão
1 co (chá) fermento
1 banana
q\b noz-moscada, canela e sal

Bata todos os ingredientes com um fuet. Disponha a mistura em uma forma de bolo inglês ou mini-forminhas. Coloque a banana inteira por cima da mistura. Leve ao forno pré-aquecido em 200º por cerca de 30 minutos ou quando o cheiro começar a invadir a sala.

Ah! única coisa é que eu me recuso a chamar de pão, porque ele me lembra mais um bolinho, do que pão e como eu fiz em forminhas pequenas, ele ficou com uma carinha de muffin. Outra coisa, chamo de "proteico" porque vamos combinar, né? Farelo de aveia não é exatamente proteína pura, mas se ele tá falando, quem sou eu...

Muffin "proteico" de banana de improviso da Tai

2 ovos
2  co (sopa) farelo de aveia
3 co (sopa) de leite em pó
1\2 banana cortada em rodela
4 colheres de sopa de iogurte
raspas de casca de laranja
q\b noz-moscada, canela e sal

Bata todos os ingredientes com um fuet. Disponha a mistura em  mini-forminhas (rende 6). Coloque a banana picada por cima da mistura. Leve ao forno pré-aquecido em 200º por cerca de 20 minutos.


E, ai? Todo mundo vai fazer?

Beijocas,


Tai.


sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Comendo o mundo: Lincoln Ristorante, New York

É sexta-feira! É sexta-feira! E sexta-feira é dia de que? De falar de coisa boa (não, não vamos falar da iogurteira toptherme e nem da câmera tekpix)! E o que pode ser melhor do que falar de turismo gastronômico? De turismo gastronômico em NYC, ainda por cima? Ah! Presentão, né?
Nova York: a capital do mundo, da moda, dos lindos sapatos (Carrie que o diga) e da diversidade cultural que abriga todas as etnias, diversidades e autenticidades de maneira harmônica, formando um incrível mosaico social e um caldeirão cheio de sabores.

A gastronomia em Nova York é tão sedutora quanto sua moda de alta costura. Em cada esquina caótica, enfeitadas por uma quantidade impressionante de turistas e buzinadas, vê-se  trailers de hot-dog, Kebab, Chiken n' rice e os Food Trucks com waffles fantásticos ali na Columbus Circle. Entre uma Channel e uma Hèrmes, vemos também a Maison du Chocolat,  a Ladurée e, mais básica e não menos importante e divertida, uma loja de MM'S ENORME em plena Times Square!

A quantidade de restaurantes, lojas de artigos gastronômicos, boutiques de comida, cookies gigantes e sorveterias é quase tão grande quanto suas infinitas luzes. O que torna Nova york a Disneyland para os amantes da comida (e o sol do nosso sistema gastrocêntrico)!

Nós vamos esmiuçar mais cada cantinho de NYC, em outros posts, pois hoje eu vim para falar de um dos meus restaurantes preferidos da cidade que nunca dorme: O Lincoln Ristorante!
Por fora, você pensa que é algum tipo de museu desenhado pelo nosso eterno Niemayer. Todo cheio de pontas, assimetrias e inovação. Por dentro, os aromas convidativos da cozinha italiana, a iluminação natural enaltecendo as taças de cristal já bem dispostas à mesa e o sorriso da hostess ao te encaminhar para sua mesa fazem você se derreter toda, até nos invernos mais rigorosos.

Quando você senta, prontamente eles já te trazem um mimo básico de fois gras com pistache, umas manteigas saborizadas e uns pãezinhos bem quentinhos que na primeira mordida já percebemos que feito com fermentação natural (e é mimo MESMO! Não é como os cobiertos da Argentina, que eles vão colocando na mesa e depois vem a facada no final)








Enquanto você degusta a entradinha, os olhos ficam ainda mais famintos com as opções do cardápio - só não esquece de dar uma bizoiada no público, pois de vez quando o Tom Cruise gosta de dar uma passadinha básica lá pra almoçar OMG!
O cardápio segue uma linha italiana bem tradicional, sem muitas firulas e o melhor de tudo é o preço: 36 doletas para entrada, prato principal e sobremesa e ainda ver o Tom Cruise, tá bom, né? No Brasil, um almoço em restaurante desses não sairia por menos de 300,00 reais. No jantar é um pouco mais salgadinho, $75,00 para o menu degustação. Mesmo assim, comparando com o Brasil, vale MUITO a pena.

Quando eu fui, por sorte, estava tendo o Restaurant Week (e eu fiquei que nem pinto no lixo por toda temporada que passei lá, indo em todos os restaurantes possiveis e imaginaveis por lindos $25). Optei pelo menu que eles indicavam e não me arrependi.

Primeiro veio uma Ricotta de Pecora, com pistaches, menta e tomates quentes, tudo misturado contrapondo a maciez da ricata, com o crocante do pistache e finalmente o doce do tomate. Depois vieram os principais: penne ao molho de queijos e bolonhesa de linguiça de porco e o da minha amiga Lin que estava comigo: polenta com almodegas de porco com um molho de vinho e frango assado. Mais italiano IMPOSSIVEL. Os olhos da gringa aqui encheram de lágrimas de emoção na primeira garfada (isso acontece mais do que deveria...) Eles conseguiram fazer o mais difícil e o que eu sempre procuro passar para meus alunos: Fazer o simples bem feito e com sabor pungente de cada ingrediente. Simplesmente fantástico. O sabor bem marcado do porco, sentindo a salvia. O macarrão fresco perfeitamente al dente. A cremosidade da polenta contrastando com o crocante da pele do frango... Ai! só de lembrar deu água na boca.







                              

Depois de ir pro céu e voltar, ainda tinha mais uma surpresa: a sobremesa, minha parte preferida (meu digníssimo nunca entende a minha empolgação com os doces, mas mulher é assim mesmo: carinha de anjo, coração de formiga). Mas não era qualquer sobremesa, era A sobremesa. Tinha todos os elementos para uma dessert inesquecivel: o crocante do Amaretti (biscoito de amêndoa típico da italia), a cremosidade do sorvete de ciocolatto e giaduia (com avelãs inteiraaas) e creme fresco batido a meio ponto. Sensação: Chegando nas portas do paraíso... O melhor: facilmente reproduzivel. Semana que vem passo a receita.







                                                                                         
E assim foi minha deliciosa refeição tarde a dentro no Lincoln...

Ah! Muito importante: Em NYC, apesar de ter muitos restaurantes, todos são disputadíssimos. O bom é sempre reservar antes aqui para evitar a frustração de ser barrado na porta.

Lincoln Ristorante

Linconln Center - 142 West 65th St. New York, NY 10023

Que tal dar um pulinho lá para conferir? It's up to you, New York...


xoxo,


T.

ps: o "Comendo o mundo" será uma coluna semanal para compartilhar minhas experiências gastronômicas Brasil e mundo a fora.